Problemas do yaoi e de fujoshis extremistas

Estão a ver? Não me ausentei tanto assim desta vez!

Então, este post deve-se a um assunto um bocadinho polémico sobre o comportamento de algumas fujoshis (sem excluir fundashis) e a [falta de] história ou abuso nos yaois. Isto em linhas gerais. Não são contra o sexo explícito em obras nem nada que se pareça, e adoraria encontrar mais fujoshis por aqui - no meu estado de depravação atual, aliás, sou incapaz de passar um dia sem desviar os meus pensamentos para o yaoi ;) A questão aqui é o exagero e o extremismo. Tudo aquilo que passa os limites do aceitável, embora não haja realmente limites definidos para isso. Não quero escrever demasiado aqui na introdução, então para entenderem cliquem em ler mais.

Primeiro, quem nunca viu fujoshis dizerem o que está na figura em baixo? Talvez alguns leitores daqui até se identifiquem:

Isto são falas que eu considero caraterísticas de fujoshis extremistas. Fujoshis "saudáveis" e "corretas", por hilário que seja colocar nesses termos os nossos gostos invulgares-mas-nem-por-isso-menos-importantes, são aquelas que defendem a igualdade de direitos e oportunidades. Aliás, acho até admirável lutar por defender os direitos dos gays, ser contra o estupro (violações, em Portugal), e claro que como me identifico como fujoshi acho o yaoi bonitinho. Mas reparem bem nas frases acima - estão longe de defender a igualdade. E o pior é que muitas das pessoas que mencionam coisas assim nem enxergam a injustiça do que estão a dizer. Para elas, o yaoi, principalmente se contiver lemon, é superior a tudo.

Qual é o problema disso? Bem, há dois:

1) Lá por gostarem de uma coisa, não significa que essa coisa seja superior, e o mesmo vale para o yaoi e para o lemon. Essa é uma linha de pensamento infantil e egoísta, e que dá descrédito às pessoas. Tudo bem gostar, com ou sem motivos, e se os motivos forem válidos, até acho bem que sejam compartilhados com as outras pessoas. É bom compartilhar os nossos ideais, CONTUDO, é errado impô-los. Não há casais melhores, não há gostos melhores, pois todos eles são subjetivos e estão ao dispor de quem os quiser. Além disso, alguns gostos mudam com o tempo - dependendo de outras influências, do contacto com coisas diferentes, pessoas diferentes e meios diferentes. É fácil ficar enjoado ou descobrir pontos fracos em quase tudo. Gostos não se discutem, e tentar provar que o que você gosta é melhor não leva a lado nenhum a não ser barracos. Não seria mais produtivo aceitar que as pessoas gostam de coisas diferentes, fazendo cada uma dispor-se a ouvir mais sobre os gostos da outra e quem sabe até descobrir algo interessante durante a conversa? É por isso que eu considero guerras de fãs tão infrutíferas - se um shipp tem adeptos, é porque há alguma razão para isso, e não é por alguém achar que encontrou uma razão mais forte que vai fazer outra pessoa deixar de torcer pelo que lhe agrada. Gostos não derivam da lógica, derivam da nossa essência. Além disso, acusar alguém de ser homofóbico por não gostar de yaoi é totalmente falso e despropositado - se for verdade, será apenas uma coincidência.

2) Estão a cometer os mesmos erros que as pessoas a quem muitas vezes se opõem. E não, ninguém tem o direito de criticar algo quando faz uma coisa equivalente ou pior. Dizer que são contra o estupro, mas depois deleitar-se ao ver o uke ser abusado pelo seme é ridículo E contraditório. Porque é estupro em ambos os casos. Uma coisa é nem interessar-se pelo assunto do estupro, outra coisa é assumir a posição de contra mas depois ignorar os próprios princípios quando se trata de yaoi. "Mas muitas vezes o estupro é retratado nas obras como uma crítica" - coisa rara nos yaois, mas é verdade, eu sei. Eu também nunca disse para não ver. Só estou a dizer para o fazer com consciência. Além disso, não é irritante quando dizem que têm nojo do nosso ship, por ser gay? As pessoas também ficarão irritadas se disserem que têm nojo dos ships héteros dos outros, levando às "guerras infrutíferas" que eu já referi, e fazendo cada vez mais pessoas acreditar que todas as fujoshis são taradas, exageradas e bem vesgas (no sentido de não verem a sua própria figurinha), gerando mais ódio. Não desçam ao nível de quem faz comentários tão mesquinhos, a sério. 

E agora passo ao outro assunto deste post: Os problemas do yaoi. Os yaois têm tendência a centrar-se no relacionamento entre 2 homens e portanto é natural não haver muitos acontecimentos à volta - em certo sentido, até funciona como um shoujo, em que o relacionamento é o próprio enredo - e daí eu considerar a classificação de "sem história" que algumas pessoas atribuem a certos géneros um bocado discutível. Mas de facto, de eu tivesse de resumir o grande defeito do yaoi é a tendência crescente de se poder classificar como PWP» Porn without plot» Pornografia sem história. Mesmo alguns dos que têm história (principalmente obras antigas, com uma ou outra mais recente) estão recheados de capítulos com sexo, e só. A toda a hora, e quase sem razão. Não que o sexo precise de alguma razão além da vontade das personagens para acontecer, mas algumas autoras inventam as razões e contextos mais absurdos possíveis para usar como desculpa para fantasias sexuais, e outras nem a esse trabalho se dão, deixando lapsos no tempo para preencher páginas com gemidos e corpos nus. De maneira nenhuma tenho nada contra o lemon, contra hard lemon, lime, S&M (sadomasoquismo) e todas essas categorias que andam lado a lado com os nossos mangás yaoi. São todas bem-vindas. O problema é uma história limitar-se a isso - kamisama, até algumas doujinshis têm mais desenvolvimento!

Mas eis aqui alguns dos pequenos problemas explicadinhos:

• » Estupro romantizado: Esse deve ser um dos casos mais conhecidos do yaoi. O uke é praticamente forçado a fazer sexo com o seme em muitas das vezes, contra a sua vontade - se isso não é estupro, então é o quê? Ele protesta, diz que não quer aquilo, tenta escapar e o seme não deixa, sendo muitas vezes até bruto e pouco cuidadoso ao violar o uke, que muitas das vezes nunca teve nenhuma experiência sexual, pelo menos com outro homem, até esse momento. E depois há quem chame o coitado de cu doce -.- Se eles já estiverem num relacionamento e se amarem, tudo bem o uke ser provocado pelo seme e convencido a fazer sexo com ele, mesmo que possa protestar um bocado, sabemos que ele está a consentir de certo modo e que o seme o respeita minimamente. Mas se não houver nada entre eles, se o uke não quer ou não se sente preparado para aquilo, o seme devia ser um bocadinho mais paciente, ou não? Até porque, muitas vezes, o  sexo acontece logo no início da história e os sentimentos de amor que o seme nutre pelo uke são unilaterais. E o pior é quando fazem o uke "aprender a gostar daquilo" e começar a apaixonar-se pelo estuprador. Não faz sentido, é abominável, na vida real isso seria visto como algo completamente desumano... então porquê que tantas fujoshis o aceitam no yaoi? Podem ver o uke a gemer noutro contexto, ou não?! 
• » Qual é a diferença entre isso e hentais?: Em continuação do tópico anterior e das minhas reclamações da falta de desenvolvimento, a sério, qual é a diferença entre lemon a toda a hora sem desenvolvimento algum em termos de enredo, e um hentai? Tudo bem contra alguns hentais e lemons sem história de vez em quando, o problema é que agora um graaaande número de yaois é assim, ou mesmo que tenha história, é meia fraca. O pior é ver algumas fujoshis reclamar dos hentais ou mesmo dos ecchis, fizendo até críticas elaboradas sobre a objetificação da mulher e tal, mas mais tarde, essas mesmas fujoshis vêm desejar lemons hard e consomem yaois com uma história fraca como se não vissem que é exatamente aquilo de que elas não gostam nos hentais, mas com dois homens. E se me incomoda hentais (gays ou não) sem história, incomoda-me mais ainda pessoas que não têm consciência da contrariedade da sua atitude. 
  
• » As dificuldades do sexo gay são pouco retratadas: Sim, ukes (e semes) depilados são encantadores, mas é inegável que o género bara nesse aspeto é mais realista. Embora não, eu não queira ver personagens muito peludas, e isto não tem relação com o tópico, só estou a aproveitar para invejar o facto de as personagens parecerem ter nascido sem pêlos. Eu queria chegar era ao detalhe de que em muitos yaois, mesmo sendo a primeira vez do uke na cama, alguns deles têm uma facilidade surpreendente a fazer sexo, quando na realidade, pelo que sei, dói bastante aos homens ser penetrado e já muitos gays afirmaram que demorou um bocado ao sentirem prazer com os parceiros. Se o seme simplesmente chegar lá e for com tudo, é provável que o uke fique traumatizado (e literalmente com dores no cu) por muito tempo. Até agora, só ainda em Love Stage o uke chegou a reclamar, fazendo o seme ter de pesquisar como não o magoar para o conseguir ter de volta. Isso implica ter ideia de que posições serão mais confortáveis para o uke, usar lubrificantes e esse tipo de coisa. Não é preciso mostrar muito coisa, só ainda me espanto com aqueles yaois que nos apresentam um uke elástico logo na sua primeira vez. 
• » Estereótipos de seme e uke: Primeiro, os termos seme (ativo) e uke (passivo) passaram a existir para designar as posições que os dois homens adotam no momento em que fazem sexo, não para atribuir às personagens a tempo todo, mesmo que uma delas pudesse ter a preferência de ficar por baixo, ou não. Mas por algum motivo, as personagens começaram a adotar SEMPRE as mesmas posições no yaoi, e mais do que isso, o ativo começou a ser sempre a personagem mais alta, forte, que exala aquele ar "machão", dominadora... Agora, mesmo antes de uma cena de lemon, é fácil e comum as fãs olharem para o par e dizerem qual é o uke e qual é o seme. Porque esses termos viraram estereótipos, dos quais farei mais tarde um post sobre os seus clichés. Claro, e felizmente, há exceções, e também não é um dos maiores problemas do yaoi porque facilita bastante a vida aos fãs na altura de se referir às personagens, mas seria bom se essa ideia não fosse tão sobre-usada. Até porque, como vi uma vez numa página do facebook numa crítica a todos os semes que forçam o uke à sua vontade, semes não são menos gays, nem mais homens, por serem ativos. E os ukes não são mais mulheres por serem passivos. 
  
• » Todo o mundo é cor de rosa: Penso que dá para falar deste tópico com poucas palavras: Em quantos yaois já vimos casais heterossexuais? Dá para contar pelos dedos, não? E mesmo que os haja, há muito mais personagens gays do que heterossexuais no yaoi. E muitas das mulheres que surgem, por vezes só estão lá para criar cenas de ciúmes. Bom, pelo menos ainda há algumas que tentam ajudar o casal principal... Não é que isso seja ago assim tãaaaao mau, dá para entender que, como a autora quis escrever um yaoi, tem vontade de focar em casais homossexuais, mas não dá para negar que é irrealista e que, uau, os gays do nosso mundo teriam uma sorte enorme se a Terra real fosse assim. De certeza que, sendo a maioria do mundo homossexual, nunca teriam problemas de rejeição nem nunca seriam odiados pela sua orientação sexual.
• » A história das personagens não é retratada: Aqui estão, a título de exemplo, algumas questões que poderiam ser colocadas às personagens principais - São gays desde sempre? E há quanto dura esse sempre? A transição para gay é recente? Foi fácil, foi difícil, o que é feito dos conflitos interiores? Às vezes, após uma confissão, uma personagem que nunca namorou com um homem antes simplesmente se deixa levar pelo relacionamento, sem se perguntar coisa nenhuma, sem sequer se surpreenderem por serem gays ou lhes ocorrer o quanto o resto da sociedade poderá ver isso como um problema. Aceitam tudo sem dificuldade nenhuma. Como é que alguém vira gay da noite para o dia? O irónico é que, por vezes, para dar a sensação de que a transição demorou tempo mas para não ter trabalho com reflexões, diálogos interiores, períodos de aceitação, ou com os obstáculos da sociedade, as autoras deixam a nota "tantos meses depois" e encurtam a distância até às cenas de sexo. Mais uma vez, Love Stage foi maravilhoso nesse aspeto, o seme protagonista realmente demorou algum tempo a aceitar que toda a sua vida esteve apaixonado por um homem sem saber, e que a descoberta não faria o amor desaparecer, então só lhe restava aceitar. E ele respeitou imenso o uke e deu-lhe tempo para começar a gostar dele também, pelo menos assim que conseguiu acalmar a confusão que ia na sua cabeça. 

Claro, HÁ EXCEÇÕES!

Basicamente os problemas são esses, alguns pontos fora explorados de maneira diferente pela minha clone, Hinata-chan, neste post» www «que por sua vez se inspirou neste post» www «no qual eu também me inspirei. Aliás, eu era para ter postado isto que estou a publicar agora na mesma altura em que a Hinata o fez, mas como ela foi mais rápida, decidi dar um tempo. Assim sempre dá para manter o assunto aceso :) Já agora, o quê que aconteceu com o shounen-ai? Refiro-me a shounen-ai que é mais do que um simples Bromance, algo como Seven days, Doukyuusei ou No.6, um romance bem presente, mas sem lemon. Oh, eu gosto bastante de lemon, mas às vezes gostava de ver algo assim mais delicado, gostava de ver  um yaoi em que o lemon não pisoteasse o resto do relacionamento - amor constrói-se de bem mais que sexo, e parece que algumas autoras se estão a esquecer disso. Aliás, já repararam que quase todos os yaois têm história de novela? Vá, há alguns com tema sobrenatural, de fantasia ou assim, mas a maioria deles é meio antigo. E gostaria também de ver casais yaoi SEM SER no género yaoi, tipo num daqueles animes grande e famosos como Naruto, ou assim, sem o foco ser o romance, mas deixando claro que havia algo entre as personagens, personagens essas que, como as outras, fazem parte de uma trama muito maior. Mas não direi mais sobre isto. Afinal, traduzi (e publicarei em breve) um post que achei em inglês que explicava essa ideia maravilhosamente e que eu acho extremamente importante fazer todo o tipo de pessoas ler. Enfim, tudo a seu tempo :)

Há pessoas que não gostam de fujoshis simplesmente por ódio a tudo o que se relaciona ao yaoi - bem estúpido - mas há outras que têm um motivo: deram de caras com aquele tipo de fujoshis exagerada que, lá está, é contra o hentai mas lê os tais yaoi sem história, que insiste em provar que uma personagem que já arranjou namorada oficialmente num anime é gay (tudo bem continuar com os fanarts e fanfics, tudo bem até pensar na possibilidade de ser bissexual, mas vê-lo com namorada e afirmar que é gay não faz muito sentido, certo?), e faz alguns comentários bastante ofensivos, ou completamente tarados. Sim, eu sei, às vezes há cada pessoa cabeça dura e cada hater do yaoi que merece mesmo uma resposta rude e exagerada para ver se se cala de uma vez, mas isso acaba por fazer as pessoas pensar que as fujoshis não têm consciência e que só vêm os defeitos que lhes convém para defender os seus gostos, quando, eu acredito, muitas de nós somos bem capazes de ter consciência dos problemas do yaoi, e caso alguma das pessoas a ler este post não a tivesse ainda, espero que agora esteja de olhos mais abertos. Uma coisa é fazer comentários "algo racistas", como os da segunda imagem do post, apenas na brincadeira, e deixar bem claro que não passa disso. Outra coisa é realmente acreditar neles. Se não é justo que as outras pessoas odeiem o yaoi que tanto valorizamos, também não é justo que nós achemos o yaoi superior a tudo apenas porque gostamos dele. 

Penso que é isto. Jaa!