18/08/15

Porquê que casais Queer devem existir fora do yaoi e do yuri


Ohayou ^^ 

Depois de algumas das postagens anteriores que fiz, senti necessidade de traduzir um post longo - mas estupendo - que achei no blog The Classy Shipper» carregando no título, você poderá ler a postagem original. Faria uma introdução a explicar o assunto, mas a blogueira em si já o fez, e muito bem. Pode tornar-se cansativo para algumas pessoas, mas acho sinceramente que devia ser lido e foi por isso que me esforcei tanto na tradução, mesmo não sendo especialmente talentosa em inglês. Uma coisinha aqui: isto não devia ser lido apenas por fujoshis. Isto é importante para TODA A GENTE, acho que está escrito de uma forma capaz de fazer as pessoas abrir os olhos, e considero especialmente importante o último ponto. Rebloguem onde puderem, onegai :)

Só umas notas introdutórias: 
1) Já traduzi, num blog exclusivo sobre No.6, uma análise do post Nezushi, feito também pela autora do The Classy Shipper. Aqui está para os interessados: www
2) Sinceramente, eu tenho orgulho de ser fujoshi. Em breve vão ver o quê que eu quero dizer com isto. 
3) Adoro especialmente a forma como este post responde à questão revoltada de muita gente: "Porquê que tudo tem de ser gay?!" Gente, as fujoshis também aceitam perfeitamente ships héteros, e querer ver a representação queer fora do yaoi e do yuri não significa querê-lo em todas as personagens, nem querer que o relacionamento seja o foco. Para isso já há o yaoi e o yuri. Acho que querer  ver essa representação tornar-se canon às vezes não é o mesmo que o querer sempre ou em tudo.
4) Tive algumas dificuldades na tradução, confesso: a palavra queer mantive, shows optei para trocar para séries, algumas expressões são um pouco difíceis de passar para português e tive de as alterar ligeiramente, mainstream traduzi muitas vezes como popular, e por vezes fiquei indecisa entre usar português do Brasil ou de Portugal, de onde eu sou. 

Cá vai a tradução:

Não às investidas homo, ou o dilema KawoShin: Porquê que casais Queer devem existir fora do yaoi e do yuri



Há sempre uma torturada lógica que surge da parte de certos espectadores quando potenciais relacionamentos homossexuais canon aparecem em animes ou mangás populares, e essa lógica procede mais ou menos assim: "Mas eles não são realmente gays. Eles são apenas amigos. Algo como amigos realmente próximos. E é tudo. Não são, como, gays ou assim. De maneira nenhuma poderiam ser gays em canon. Porque isto não é yaoi. Ou yuri. Parem de tentar tornar tudo gay! Este é um anime normal, onde não há gays (a não ser que sejam duas mulheres avantajadas a beijarem-se e nesse caso tudo bem)."

Eu refiro-me a esta linha de pensamento como "Não às investidas homo" ou "O dilema KawoShin" (em referência ao relacionamento entre Nagisa Kaworu e Ikari Shinji em Neoon Genesis Evangelion, que evoca precisamente este tipo de resposta por certos nichos do fandom). É um processo em que, em vez de aceitar a presença e facto de que um casal ou desejo queer canon numa serie "importante" (ou simplesmente a possibilidade de tal coisa), parte do fandom insiste em interpretar ou re-interpretar canon para apagar a óbvia evidência dessas coisas em ordem de as manter "hétero" e, assim sendo, aceitáveis.

É um problema. É um grande problema, porque o resultado desta lógica é que ships do mesmo sexo acabem relegados [limitados a] quase sempre à caixa do yaoi e yuri, ou para o fandom fujoshi, onde eles podem ser evitados e tratados como um nicho. E não devia ser assim. Os géneros de yaoi e yuri absolutamente requerem casais canon homossexuais, naturalmente - e esses géneros podem prosperar até a perpetuidade - mas eu gostaria de argumentar que é problemático e perigoso relegar esses relacionamentos somente para o yaoi e yuri - tanto para anime como mangá e para os espectadores em si.

Resumindo: é certo que precisamos de histórias sobre personagens sendo queer, mas também precisamos de histórias sobre personagens queer sendo alguma outra coisa.

Acompanhe enquanto eu explico o porquê em três argumentos.
I. Porquê que yaoi e yuri não são suficientes
II. A natureza do Não às investidas homo
III. Se realmente você não pensa que haja algo de "errado" em ser gay, então porquê que reclama?, Porquê que isso importa

Saki e Maria, melhores amigas e amantes em Shin Sekai Yori

I. Porquê que yaoi e yuri não são suficientes*

Toda a gente está familiarizado com yaoi ou yuri. Mesmo quem não tem interesse em yaoi ou yuri sabe o que significa, sabe sobre o que é - se eu devo citar o rapaz adolescente que acidentalmente tropeçou  numa secção yaoi numa livraria onde pesquisou recentemente - "tipo... pessoas gays." E...sim. É basicamente isso. Yaoi e yuri ostenta personagens e atrações do mesmo sexo como seu central recurso e princípio. Sem ships slash não há yaoi ou yuri.

Como com qualquer género - ficção científica, fantasia, romance - séries yaoi e yuri variam em qualidade e execução. Muitas obras yaoi e yuri partilham recursos e metáforas que qualquer fã reconhece instantaneamente: Mãos de Seme, Ukes corados, adoráveis colegas de escola. Algumas obras yaoi e yuri são muito, muito boas e outras tão más que até fazem tremer. Mas é um mercado a prosperar e no qual a vergonha dos fãs - que por vezes se sentem compelidos a esconder o seu interesse - diminui mais e mais a cada ano que passa. Há lugares especialmente online que permitem aos fãs de yaoi e yuri discutir as suas paixões sem vergonha (de olho em você, Tumblr) e a incorporação de BL e yuri nas secções de mangá e anime significa que lenta mas certamente o yaoi e yuri deverá receber a legitimidade de qualquer outro género.


Ainda assim, yaoi e yuri não são suficientes. E não podem bastar por diversas razões.

E aqui nós podemos ver um yaoi no seu habitat natural
Para iniciantes, séries classificadas como "yaoi" ou "yuri" garantem quase imediatamente a sua marginalização na popularidade. Fãs que não têm interesse em yaoi ou yuri vão avançar séries tageadas assim - eles sabem suficientemente bem que yaoi ou yuri indicam "algum tipo de romance gay" e isso basta para os fazer passar por elas independentemente da qualidade da história ou do conteúdo. Séries que caiam no nicho de yaoi ou yuri frequentemente não vêem a luz do dia, ou pelo menos não recebem a mesma explosão que a maioria das séries populares recebem. E apesar de séries como K project ou Free! do KyoAni tomarem vantagem da loucura das fangirls fujoshis com imenso fanservice e indícios BL, nunca atravessam a linha definitiva do território canon e de qualquer modo, como se pode argumentar, não foram construídos particularmente para atingirem a maioria da audiência e sim para fangirls (pesquise sobre a típica reação otaku a Free! se se pergunta sobre o que eu quero dizer).

Os relacionamentos que existem entre homens nessas séries são deixados, propositadamente, como forragem  para a imaginação e fantasia, ou apenas recebem indícios ou são elaboradas ao lado de produtos no mercado. Por outras palavras, nestas séries é por vezes possível interpretá-as como, estreitando o olhar, bromance, ou pelo menos como não romance, e para começar elas não ambicionam a mesma audiência de, por exemplo, Bleach ou GITS. Então os ships slash tornam-se marginalizados também, tratados como domínio das fangirls ou banidos do  radar da maioria do público que assiste anime e mangá.

Este print screen de Free! mostra exatamente em que sentido este anime foi feito para uma fujoshi estupefacta, mas não necessariamente como  única audiência
Em segundo lugar, algumas pessoas podem gostar de ver casais do mesmo sexo representados em animes e mangás sem ser no yaoi ou yuri. Os géneros em si são de certa forma limitantes - algumas pessoas preferem-nos, mas outras não. De facto, por vezes penso em yaoi ou yuri existindo paralelamente ao género "romance", os montes de livros de Harlequim  em lojas cobertos com cowboys nus e mulheres com seios pesados. Se romance e atenção sexual e um relacionamento em si é o seu foco principal - se você quer carícias quentes ou angústia romântica ou homens sexys ou mulheres aos beijos ou toda a montanha russa do amor e do desejo - então em todos os sentidos, cai de cabeça na secção yaoi ou yuri. Yaoi ou yuri contam histórias, realmente, mas as histórias centram-se em relacionamentos, em amor e luxúria. E às vezes as pessoas querem mais que isso - querem o amor e a luxúria como parte de um enredo muito maior e mais expansivo. Querem narrativas complexas e personagens abundantes e montes de política e lutas épicas e, em meio a tudo isso, também querem ships slash. Querem relacionamentos homossexuais se tornen algo natural e uma parte ordinária de uma história muito maior, que amor e desejo homossexual  seja reconhecido... oh, bem, da mesma maneira que amor e desejo heterossexual tem sido reconhecido em incontáveis séries de anime e mangá desde sempre. Por outras palavras, enquanto yaoi e yuri levam ships do mesmo sexo à luz como um foco, algo como um objeto de-algum-modo-fetchisado de interesse e fascinação, há pessoas - e eu estou entre elas - que também querem ver relacionamentos homossexuais ocorrer natural e espontaneamente dentro do alcance da construção de narrativas mais amplas.

O que quero dizer é que yai e yuri monta mundos onde sexo gay pode ocorrer livremente. E isso é bom! Mas também seria bom relacionamentos gays acontecerem fora num mundo onde toda a gente sai [nota da Any: a expressão original era Hanging out, eu não soube traduzir bem]. Infortunadamente, animes e mangás que têm a audacidade de representar relacionamentos homossexuais fora disso  leva ao Não às investidas homo, que eu quero discutir detalhadamente a seguir.

Nezumi e Shion de No. 6: este é o seu segundo beijo

II. A natureza do Não às investidas homo

A minha primeira experiência  com o Não às investidas homo veio enquanto eu estava a assistir o anime de No. 6. Eu sou slasher e shiper há muito tempo e pareceu-me imediatamente óbvio que Nezumi e Shion se amavam um ao outro mesmo antes de eles se beijarem pela primeira vez. Todos os sinais estavam ali: sacrifício, devoção, compromisso, confissões estranhas, sentimentos. Eu tinha tanta certeza disso, de facto, que eu fui verificar para ter a certeza de que esse anime não tinha sido classificado como yaoi após assistir a dois episódios. Não tinha. Fiquei agradavelmente surpreendida.

Mas a maioria do fandom ficou irritadíssimo. No Randoom Curiosity, um blog de animes que eu lia frequentemente na época, o escritor Guardian Enzo tomou nnota do relacionamento mas riscou um tão estranho sobre ele, assim como vê a necessidade de tranquilizar os fãs de que os momentos gays não se tornariam mais do que eles poderiam suportar:

"Suponho que as conotações BL nunca vão atingir o nível da conotação de séries como Pandora Hearts ou desta série prima numericamente nomeada 07 Ghost, mas de qualquer forma não importa tanto assim como a qualidade da amizade em si" (fonte aqui)

E depois, mais  tarde:
"Os elementos que tornaram algumas pessoas desconfortáveis continuam aqui, mas eu escolhi vê-los como genuína afeição fraternal entre duas pessoas fundamentalmente solitárias" (fonte aqui)

Eu quero ser justa aqui com Enzo e clarificar que ele é geralmente compreensível e respeitável perante relacionamentos homossexuais em animes e mangás; por outro lado, as suas palavras aqui parecem-se com um esforço da sua parte para acalmar a irritação geral do fandom em resposta à aparente gayzisse na história: as furiosas denúncias pelos fãs de que esta série devia ser classificada como yaoi, de que eles não assinaram para ver dois  rapazes a olhar um para o outro, o "ewww que horror são dois homens apaixonados?????" ou o "lol ok sem problema mas isto decididamente não faz o meu género."

Uma terna carícia num mangá distópico sobre abelhas e morte e genocídio. Sim, você ouviu.
Por outras palavras, para tornar No. 6 aceitável como uma série para um certo segmento  do fandom, Enzo teve de enfatizar que nós podemos "escolher" ver estas duas obviamente "pessoas solitárias" como partilhantes de "genuína afeição fraternal". Por outras palavras, somos encorajados a vê-los como explicitamente não queer mas em vez disso como platónico - platónico e desesperado por amizade. Mais tarde, porém, depois de os rapazes se beijarem e Enzo admitir que aquilo que já foi um "tom suave" se tornou oficialmente um "tom",ele diz: "Está em aberto agora, então vamos lidar com isso e continuar em frente" (fonte aqui)

Eu não quero pintar o Randim Curiosity com um pincel largo aqui - montes de fãs foram suportativo a esta série, e tenho de admitir que o anime não é nem de longe tão bom como as light novels ou o mangá - mas achei a audiência desse blog representativa da maioria do fandom e, com certeza suficiente, uma vez que a homossexualidade não podia ser negada, muitos fãs decidiram dropar a sério a direito, incapazes de lidar com o quão "estranho" o pensamento de dois rapazes apaixonados poderia ser. 

E este foi o preciso momento quando Shin Sekai Yori assustou um segmento confessado de fãs anti-yaoi
Tenho visto isto acontecer de novo e de novo. Mesmo em séries como Shin Sekai Yori, onde a homossexualidade das crianças na história serve um importante ponto do enredo - eles vivem numa sociedade onde humanos foram geneticamente modificados para abominar a violência e o conflito, e para abraçar o amor e a afeição física - os fãs entraram em pânico quando, no episódio oito, Shun e Satoru partilharam um beijo explícito (É relevante salientar que esses fãs não se mostraram tão incomodados perante afeição homossexual entre Saki e Maria no mesmo episódio, o que leva a um dos dilemas da representação yaoi vs yuri no mangá e anime: yuri recebe mais representação nos animes "populares", mas que essa representação em si é problemática por ser objetificada e fetichizada.

E agora ainda temos Neon Genesis Evangelion - mais especificamente, Shinji e Kaworu

Mas a maioria dos fãs parece lidar bem com isto, e não o encaram como um confronto à decência heterossexual
Não liguem a Kaworu e Shinji, eles estão só de mãos dadas. Já agora, vejam alguma arte oficial de vez em quando.
Para falar de NGE, penso que é importante falar do mangá de Bleach. Sim, há uma razão e não, não vou ser muito dura nem magoar os seus sentimentos. Isto é necessariamente uma toca de coelho. Escolhi Bleach especificamente porque é a) um dos vários mangás populares em que se pode pegar e b) porque tem vários ships geralmente vistos por fãs como possivelmente canon: IchiHime ou IchiRuki (se você prefere confrontar assim), ou mesmo IshiHime. Fãs irão discutir infinitamente sobre qual destes ships será canon, mas o ponto importante que eu quero marcar é este: os fãs que interpretam estes ships como potencialmente canon fazem-no na ausência de evidências físicas de afeição. Orihime toca na mão de Ichigo, certo. Ichigo e Rukia partilham longos olhares e ele pega nela e leva-a para algum lugar de vez em quando. Há imensa devoção e sacrifício e promessas e juramentos e olhares e gestos, mas... não há um beijo. Nenhuma personagem diz há outra, "Sabes, eu gosto de ti, amo-te, e estou a dizer isto de um modo puramente romântico." O canon é apenas inferido, e ainda assim não muita gente objecta sobre a validade dessas inferências: eles vão argumentar que Ichigo se sente atraído pela Orihime e não Rukia, ou vice-versa, mas não argumentar que o pensamento de Ichigo se sentir atraído por outra personagem, por uma mulher, é absurdo ou impossível em virtude da sua própria existência. E mesmo em ships onde casais heterossexuais são confirmados, não há necessariamente uma confissão explícita ou um ato físico para encerrar o assunto. Os espectadores simplesmente vêm as personagens interagir, pesam os seus gestos e ações, e dizem, "Ei - parece que podia ser canon. Estas duas personagens parecem amar-se num sentido romântico, ou pelo menos é o que as suas ações me transmitem."

Apenas a saírem do banho. E corados. Nada demais.
Se não reconhece esta cena ou o que ela significa, não vou despedaçar o seu coração contando-lhe
Isto poderia dar a entender que um processo similar atuaria em NGE. O relacionamento partilhado por Shinji e Kaworu é indubitavelmente intenso e único. A sua afeição é marcada, certamente, por afeição física (incluindo um beijo no mangá), e por todos os pequenos "indícios" (a cena do piano em You Can (Not) Redo ou qualquer uma das frases carinhosas de Kaworu ou qualquer uma das respostas de Shinji, todas as suas interações juntas, o efeito de Kaworu na existência de Shinji) que poderia apontar para um canon romântico aos leitores. De certeza que todas as séries têm razões para quais ships constituem canon e eu acho-os válidos, mas qualquer espectador de anime e mangá que tenha visto esta série deveria ser capaz de admitir que a possibilidade de um relacionamento queer canon entre Shinji e Kaworu pelo menos existe. E ainda assim vi como o fandom se retém ao perceber no tal Não às iniciativas homo - não, não há nada para ver aqui, esta é absolutamente a coisa menos gay do planeta, isto é totalmente não-gay - mas também se zanga à implicação de que um relacionamento queer canon é possível. (Isso acontece em dobro se você se atrever a sugerir que Shinji pode também ser bissexual).

O lamento da batalha, sempre, é este: "Oh pá, porquê que tudo tem de ser gay?"

A resposta, claramente, deve ser: "Oh pá, porquê que tudo tem de ser hétero?"

Mako e Ryuko partilham um doce laço em Kill La Kill, e eu adicionalmente aprecio o olhar indignado da Mako aqui

III. Se realmente você não pensa que haja algo de "errado" em ser gay, então porquê que reclama?, Porquê que isso importa

Oiço este mesmo argumento o tempo todo: "Não é como se eu tivesse alguma coisa contra pessoas gays. Juro. Eu tenho amigos gays! Só prefiro não ver este tipo de coisa. Não faz o meu género. Não quero isto no meu anime."

Você quer saber o quê que eu não prefiro? Seios tão grandes que funcionam como bóias para flutuar, mas que droga porque isso é mostrado em quase todas as séries que assisto. E tmabém prefiro maçãs a bananas, mas ainda não visitei todos os restaurantes e mercearias da minha área para pedir que removam as bananas de cada item no menu. Isso porque sou uma adulta sã e racional. Não consigo compreender as pessoas que juram que "aceitam bem" sexualidade queer e depois, simultaneamente, afirmam que preferem ver séries apenas com personagens héteros.

É uma lixeira imperfeita.

Quer dizer, eu compreendo que você não queira consumir yaoi ou yuri, certamente, do mesmo modo que compreendo que algumas pessoas não gostem de ler ficção ou fantasia. Mas se um relacionamento queer aparecer numa série que você iria de outro modo gostar, então qual é o problema? A menos que tenha um problema com amor e desejo em todas as suas formas - e isso significa, de cada vez que um anime apresenta uma personagem de qualquer género a expressar amor, luxúria, afeição ou desejo por qualquer personagem de qualquer género você muda de canal com repulsa - então não há motivos para  não ver.

Sailor Moon, mostrando como se faz
Pois aqui está a feia verdade: se você não está a assistir a algo somente porque tem um relacionamento queer nele - se de outro modo você iria gostar e assistir à série desde que não contivesse um relacionamento homossexual - então você tem um problema com a representatividade de pessoas queer nas coisas que você gosta, e como resultado você tem um problema com pessoas queer na generalidade. Você está a dizer, "Tudo bem que estas pessoas existam, desde que eu não tenha de as ver a viver as suas vidas ou amando apesar de serem seres humanos normais. Podem existir, apenas fora do alcance da minha visão para eu não ter de olhar para elas." E isso é um problema. É um problema dizer, "Pessoas queer de certa forma poluem as minhas experiências, portanto eu quero apagá-las de todas as coisas que quero experimentar."

Em alguns dos melhores animes e mangás, os relacionamentos - frequentemente românticos - tornam-se uma parte natural da história. Não são sempre o foco, nem o final, mas estão lá. Isso porque o amor e o desejo e a afeição enriquece e complica a vida de uma forma estranha e bela, porque muda as personagens e as motiva e magoa e revela coisas sobre elas mesmas. Na maioria das séries, estes relacionamentos nem aparentam ser forçados nem falsos, em vez disso ocorrendo naturalmente, crescendo e desenvolvendo-se. Se você quiser ler as novels ou o mangá de No. 6 sem a ceguês não-homo (e mesmo sem lentes fujoshi), o que você vai encontrar é uma história de dois rapazes que conseguem dar conta e desmantelar uma sociedade opressiva e genocida, apesar das suas próprias diferenças e porque se amam um ao outro profundamente. Vá através Shin Sekai Yori, e vai ver que o beijo de Shun e Satoru mistura uma inocência dolorosa e desejo com a assombrosa realidade da cultivação genética com que estas crianças tiveram de lidar devido às suas monstruosas habilidades. Permita a você mesmo acreditar que Shinji realmente ama Kaworu e deixe a compreensão da sua desesperada afeição informar sobre o conflito do coração de NGE oou permitir-lhe entender a jornada de Shinji. Permita-se ser envolvido e valorizar devidamente e assistir e chorar perante séries ou qualquer que seja a sua reação, e aperceba-se de que isto é o que pode acontecer quando nós permitimos a representação queer em animes e mangás.

O beijo de No. 6 que deixou pessoas zangadas a protestar sonoramente, "Ninguém disse que isto era um yaoi!"
É por isso que eu encorajo o fandom a falar e ser honesto sobre aquilo que quer ver nas suas séries e nos seus mangás. Não permita que a representação dos relacionamentos queer seja apagada na discussão de um fandom apenas porque alguns se sentem desconfortáveis com isso. Não permita que o Não às investidas homo reine na interpretação de cada fandom. Não se dê por satisfeito com representação lésbica ou bissexual em animes e mangás se essa representação existir apenas para agradar às fantasias de otakus predeterminados; exija mais e melhor. Não caia sempre na armadilha de acreditar que, ainda, todos os relacionamentos homossexuais de anime e mangá têm de ser "yaoi" ou "yuri" - se você estiver a assistir a uma história que é sobre muito mais que isso e que por acaso também contém personagens queer, empurre-o para a popularidade tanto quanto possível e não permita que seja rotulado. Deixe as outras pessoas vê-lo. Deixe-as aproximarem-se e compreender que pessoas queer são pessoas e que o fator que as define não tem de ser sempre a sua opção sexual.

De certa forma, vejo este assunto dar subtis passos em frente. A existência de séries como K ou Free! indica que, pelo menos, alguns estúdios se encontraram interessados em satisfazer uma audiência entre os otakus tradicionais. Desafortunamente, ao mesmo tempo séries como ShinSekai Yori caem abismalmente para um nível comercial (apesar de uma quantidade significativa de críticas a aclamá-la) e outras, como No. 6, são completamente rotuladas. Há uma imensidão de trabalho por fazer, e essa foi a razão que me fez pensar que queria escrever sobre isso aqui: para continuar a tornar a importância deste assunto visível da única maneira que posso.

* Apesar de me referir maioritariamente à representação queer em animes/mangás e ao yaoi/yuri aqui, você vai notar que os meus exemplos tendem para o lado yaoi do espectro. Há uma razão para isto: a primeira e menos relevante é que sou simplesmente mais familiar com casais do mesmo sexo homens do que mulheres. A segunda é que a questão da representação lésbica/bissexual é de  muitas formas mais plena. Você pode apontar que devia haver uma representação ainda maior nos mangás "populares" e de certa forma é verdade, mas essa representação tem sido problemática quando existe para ser fetichisada ou consumida pelo público masculino. É uma contaminação em si mesma, e eu não quis entrar em mais detalhes aqui porque o post se estava a tornar maior a cada minuto.


Ok, agora sou novamente eu, a dona do blog, a falar: Parece que este texto pode ser interpretado de maneiras bem distintas, então para o caso de ajudar e porque uma leitora do blog fez um comentário ótimo, vejam o que ela escreveu. A Miyaneo é fujoshi há anos e percebe muito do assunto, fez um comentário [triplo] ao que eu respondi, dizendo como interpretei o texto, com um outro comentário [duplo], suponho que pode ser útil para quem achar o texto até meio confuso ~também pode ser culpa da minha tradução. É logo o primeiro, realmente recomendo a leitura!

11 comentários:

  1. Oi Any-chan! Primeiramente, quanto tempo hehehe~ Gostei bastante que você teve o trabalhão de traduzir esse texto e eu acho que isso é algo realmente louvável, pois o tema tem de ser levantado mesmo e discutido, e por vezes não é.

    Primeiramente, vou falar comentando mais falando com você e não como se eu estivesse comentando para a pessoa que escreveu o post, e isso é importante para eu ressaltar que nem tudo está correto, mas não está errado também. E para o bom entendimento do que vou falar agora HUSAUSHA

    Sou fujoshi há anos e não é a primeira - e se as fujoshis propuserem, não será a última também - vez que vejo este assunto cair aos meus olhos. Esse assunto vem me incomodando e incomodando várias fujoshis brasileiras desde que me entendo nesse meio, tanto por lermos fanfics de animês que não aborda queers no enredo ou tanto nessas "insinuações" de casais queer. O que eu notei no texto é que, apesar de que ela fala sobre várias coisas corretas ao meu ver, como esse "NÃO ao homo", sobre a questão de que "por que tudo tem de ser yaoi/yuri?" com a resposta "por que tudo tem de ser hétero?", adorei!

    Mas uma coisa que eu acho que o texto desliza é: citar shounens. Em ambas as tramas, o foco principal nunca foi o romance. Nunca. Em nenhuma vez sequer vi romance como uma questão maior, nem com a irmã da Rukia com o Byakura, nem com os pais do Ichigo, nem com nada. E isso se reflete também nas queer. Bleach, Naruto e OP, são animês famosos que por vezes nos esquecemos de que são mangás de ANOS de vivência, coisa de 10, 15 anos. Sim, são velhos e isso se reflete na trama.

    “Resumindo: é certo que precisamos de histórias sobre personagens sendo queer, mas também precisamos de histórias sobre personagens queer sendo alguma outra coisa.” Concordo absolutamente! Mas... isso não seria fazer os shounens virar Yaoi?? Em parte, essa idéia que ela coloca no texto serve se a pergunta fosse também: “Queremos Yaois com lutas. Que o Yaoi não seja somente um shoujo colegial ou josei só que com homens”. O problema não é só exclusivamente do fandom em si, ou somente das coisas normalmente héteras como shounen (que é um gênero, não se esqueçam, para ficar o melhor entendimento).

    “[...]bromance, ou pelo menos como não romance, e para começar elas não ambicionam a mesma audiência de, por exemplo, Bleach ou GITS.” Bem, mesmo no próprio gênero shounen em que esses dois estão inseridos, demoraram aos autores conseguirem o destaque, sem falar que lutaram contra os outros concorrentes de seu próprio gênero. Ou vá me dizer que o ENREDO de Evangelion poderia competir com algo totalmente comercial como Free? Ou algo curto, como K Project? E esse último ainda, não vi, mas também compete para ficar no mesmo patamar de outras obras sem ser o fanservice, apesar de utilizá-lo. Evangelion é reconhecido mundialmente, tem museu no Japão e as pessoas, por mais que o texto fala que não, sabem sim da relação não explícita entre o Shinji e Kaworu. Basta perguntar a fãs.


    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A pessoa do post coloca, sem questão, que vemos Canon entre casais como Orihime e Ichigo, ou Rukia e Ichigo sendo que claramente temos PESSOAS BRIGANDO POR CAUSA DE SHIP, por argumentar ser Canon. Nessa parte o texto pra mim, ao menos, fica bem confuso quando diz que “Isto poderia dar a entender que um processo similar atuaria em NGE.” Tipo, não?? Várias pessoas, meus amigos principalmente VICIADOS EM NGE argumentam por vezes falando sobre Shinji e Kaworu. Ela (pessoa do post) simplesmente coloca CASAIS que são de animes/mangás de gêneros diferentes, não focados em romance, como algo a servir de argumento para a falta de diversidade sexual (onde mais uma vez digo que há brigas entre fandom dos casais respectivos); tanto no Yaoi quanto no Shoujo.

      Acho que Any-chan, você já fez um post ou já deve ter lido sobre o ódio que cai sobre qualquer MULHER ou GAROTA que apareça no Yaoi, certo? O mesmo acontece em shounens. Não é exclusividade e não é questão de ser NON-HOMO, mas sim, de NON-QUALQUER-OUTRA-COISA-NO-MEU-GÊNERO.

      E, além do mais: No. 06 não está nem entre o shounen-ai nem entre o Yaoi. Até cheguei a perguntar para várias pessoas e elas não sabem me dizer exatamente que No.06 se encaixa com perfeição nessas duas categorias. Ex.: um anime 100% shounen-ai é Uraboku, é explícito e todos sabem disso. Mas há casais héteros também, assim como uma grande afeição não explícita entre outro casal homo (tudo na mesma trama) embora o romance só aconteça não-explícito no casal principal da trama, que o homem é uma reencarnação de uma MULHER na vida passada e o homem faz o papel de “amante” da reencarnação dela, mesmo sendo um homem agora. E, o foco, assim como outros shounen-ai, fica implícito, pois o enredo simplesmente não foca num romance, igual Yaoi e Shoujos.

      “e uma parte ordinária de uma história muito maior, que amor e desejo homossexual seja reconhecido... oh, bem, da mesma maneira que amor e desejo heterossexual tem sido reconhecido em incontáveis séries de anime e mangá desde sempre.” Bem, daí você quer lutar contra o preconceito, certo? Mas também, eu já li shounens que fica explícito a relação do tipo marido-mulher (um último que li e que estou enrolando a fazer resenha é Samurai Deeper Kyo, que a mocinha fica com o mocinho –que é meio vilão, mas você me entendeu HUSAHUSA XDD) porém... Se formos pegar só o exemplo que a pessoa do post colocou, vemos que ele também não traga nada de pessoas lutando apenas pelo sexo oposto XD

      Eliminar
    2. Em Bleach mesmo: A primeira saga o Ichigo foi resgatar a Rukia. Todos gritaram: IchiRuki é Canon!! A Segunda saga, tecnicamente, Ichigo foi salvar Orihime. Todos gritara: IchiHime (e outros gritaram UlquiHime, hehe). Se ele ficou com alguma delas? NÃO. E agora ele está lá igual trouxa pra salvar o Sasuke de Bleach: Ishida. E sim, mesmo sendo por CHACOTA, vejo muitos comentários das pessoas falando sobre este ship também. O que eu posso dizer é que: devemos lutar contra o preconceito que ela citou, do NON-HOMO, mas da maneira correta, não da forma em que ela propôs; citando animes que nada tem a ver com esta guerra. Ela citou um texto não sei das quantas, mas... e se tirarmos a homofobia? O que sobrará certamente é a resenha de um bom anime como No.6 se mostrou sendo e portanto, sendo reconhecido (luta social, das classes, uma metáfora ao que vivemos na sociedade dividia entre ricos e pobres na miséria).
      Vemos que mais e mais pessoas tratam “Yaoi” como simplesmente “casal gay na história”, sendo que na realidade ele é seu próprio gênero, assim como shoujo. Não designamos “Casal shojo” dentro da trama, e é isso que a pessoa meio que aborda, mas de um jeito meio errado. Em Free!, não vemos a interação romântica, certo, mas... Não vemos interação romântica de nada. Não há o “Não homo” nesses animes, sabe? Aquele Momotarou que vive correndo atrás da Gou-chan, vive na friendzone. É fanservice? É, mas também a principal enredo está na natação.

      Se alguém escreveu em algum momento em que relações explícitas como No.6 são “ewww. Casais gays??” numa trama “tão boa!”, quer dizer realmente que a pessoa não aprendeu nada com a trama e não será nós, fujoshis, a ter de explicar a cada alma viva homofóbica o enredo que combate essa ideologia de “sair da caixinha do preconceito”, pois só apoiando o material como ele é que poderemos realmente fazer isso.

      E sobre a representação lésbica: estamos aí na luta diária no feminismo para que possamos ver temáticas que envolvam o corpo da mulher sem essa simples tensão sexual, como se fôssemos um buraco para se meter. Ou seja: nem entrarei nesta questão pois isso não é somente nos animes e mangás: é na vida real, na indústria do pornô, na sociedade... “Viados são viados, mas até vejo lésbicas porque é sexy”, já vi esse tipo de comentário aos montes em fotos de casais lésbicos ou de vídeos mostrando lésbicas.

      E falei tudo isso, não por discordar em GRANDE parte do texto, mas que também podemos sempre acrescentar o que já vimos, pois não fiquei anos e anos vendo Yaoi sem me ater à esses detalhes da vida que se misturam as coisas que lemos na ficção. E sinceramente? Adorei o texto. As respostas dela sobre argumentos preconceituosos são nota 10!

      Any-chan, desculpa pelo textão! Beijos, saudades ^^

      Eliminar
    3. Ok, comentando por partes!

      Antes de mais, bem vinda, fico muitíssimo feliz por dar as caras na blogosfera e por ter tanto tanto mas tanto a dizer, acho que já tinha saudades destes seus comentários gigantescos >.< Então, bom você comentar como sendo para mim, pois assim será mais fácil para mim responder. Mas sabe, acho que na maior parte dos tópicos defenderei o texto inicial, ou pelo menos a interpretação que fiz dele.

      Eu também adorei as respostas que a autora do texto deu a algumas questões que tanta gente levanta, como "porquê que tudo tem de ser hétero?!" Mas quando ela citou os shounen, não acho que tenha sido no sentido de dizer que eles deviam ter um foco mais romântico com casais queer, acho que ela tinha noção de que não são nenhum shoujo nem quer convertê-los em yaoi. O que eu interpretei foi que ela pegou no facto de, em shounens, haver sempre aquela personagem apaixonada pelo protagonista, ou um romance que de maneira nenhuma é o centro da história mas está lá bem presente e todos os fãs sabem que há uma atração romântica entre as personagens, estou-me a lembrar para um caso desses de Roy e Riza de Fullmetal alchemist. Acho que o que ela quis dizer era que, em vez de esses pares ou paixonites serem sempre héteros, poderia haver um ou outro yaoi ou yuri. Sem ser algo demasiado declarado na trama. Assim, teriamos as tais "personagens queer sendo algo mais".

      Sobre a parte em que ela falou sobre casais canon (em bleach) e a discussão dos fãs: também penso que ela não estava a dizer que algum deles é canon, apenas que OS FÃS É QUE estavam a guerrilhar por qual é que poderia tornar-se canon. E normalmente, nesses guerrilhas, nunca entram casais yaoi, mesmo que a série em questão tivesse insinuações ou um relacionamento forte o suficiente para dar um ship, pois quem shipa yaoi acaba sendo uma minoria.

      Não estou inteiramente por dentro de NGE, portanto vou acreditar no que você diz e que há sim muitas pessoas a entender o relacionamento do Shinji e do Kawaoru :) Mas mais uma vez aqui, acredito que a autora se referia às pessoas que notoriamente se recusam a aceitar KawoShin como sequer um ship, daí troçar das reações de "asco" que essas pessoas têm ou da sua tentativa de fechar os olhos. Mas sem dúvida, o exemplo que você deu para o "NON-QUALQUER-OUTRA-COISA-NO-MEU-GÊNERO" deu para entender na perfeição, e aí tenho de concordar muitíssimo.

      Já tinha ouvido falar de Uraboku, mas sabe, ainda bem que referiu, eu queria colocar o anime na lista para ver mais tarde e tinha-me esquecido do nome, obrigada por me lembrar ;) Realmente, No. 6 não está categorizado nem como yaoi nem como shounen-ai, mesmo tendo um casal homossexual, e o argumento que mais se ouve dizer é porque o romance não é o foco (mesmo ocupando uma grande parte da história). "e se tirarmos a homofobia? O que sobrará certamente é a resenha de um bom anime como No.6 se mostrou sendo e portanto, sendo reconhecido (luta social, das classes, uma metáfora ao que vivemos na sociedade dividia entre ricos e pobres na miséria)." - penso que seria precisamente isso que a pessoa quer ver, e eu também quero: resenhas magníficas de animes assim *oh, e quer também mais animes assim* sem homofobia a permear a escrita. Nem é realmente uma questão sobre animes, ou séries. É uma questão sobre a sociedade assim, e sobre como os meios de comunicação poderiam servir para mudá-la aos poucos, mostrando personagens queer integradas na história, sem aquela purpurina toda com que às vezes retratam pessoas gays na televisão, e sim retratando-os como pessoas perfeitamente normais que, independentemente da sua sexualidade, são importantes para a história. Quer personagens queer reconhecidas pelo seu papel, personalidade, o que for, não por serem gays, pois mesmo estando claro (ou nem tão explícito assim) que o são, o foco não está de maneira nenhuma nos relacionamentos.

      Eliminar
    4. Então eu penso que os exemplos que ela citou, e PRINCIPALMENTE os shounens, fazem todo o sentido, pois é isso que ela quer e é isso que eu quero também, animes - shounen, ou de qualquer género em que o foco NÃO seja romance - com ships ou até mesmo casais yaoi reconhecidos por grande parte dos fãs - não apenas por fujoshis - nas entrelinhas. Da mesma forma que muitos dos seus amigos sabem de KawoShin e aceitam ^^

      Acho que a forma como interpretamos o texto realmente nos levou a avaliá-lo de forma diferente, haha >.< Agora vou à parte em que concordamos: Yaoi é o seu próprio género. A autora não deveria tanto ter dito "casais yaoi e yuri fora do yaoi e do yuri" e sim "casais homossexuais fora do yaoi e yuri", mais uma vez, sem serem o ponto central do enredo. Também concordo com a parte de "não será nós, fujoshis, a ter de explicar a cada alma viva homofóbica o enredo que combate essa ideologia de “sair da caixinha do preconceito”, pois só apoiando o material como ele é que poderemos realmente fazer isso. " Pessoalmente, eu gosto de tentar fazer fazer as pessoas abandonarem certos preconceitos, mas isso é da minha personalidade, não tem nada a ver com obrigação, minha ou de quem for.

      Também concordo INTEIRAMENTE com o que você disse sobre o feminismo, e sabe, aqui também acho que era isso que a autora estava a tentar dizer, que é a nossa sociedade que tem os seus "gostos formatados" e isso se reflete em séries e não só - no tópico, sobre a representação lésbica e do corpo da mulher.

      Não peça desculpa pelo textão, a sua dedicação por escrever tudo isto foi enorme e ainda bem que tem tanta coisa a acrescentar, afinal você é fujoshi há muito mais tempo que eu, que o sou há pouco mais de um ano, e tem opiniões fortes além de estar por dentro do assunto. Eu que agradeço o comentário, aliás, acho que está tão bom que vou recomendá-lo agora no fim do post >.<

      Eliminar
    5. Any-chan, agora que você falou, concordo plenamente aos motivos pelos quais a autora do texto original colocou shounens. Eu estava a ler doujinshis de Naruto, e eu estava pensando neste exacto momento que se Naruto tivesse esse negócio de que o protagonista ficaria com um "par" no animê original, seria o Sasuke da mesma forma que na doujinshi, mesmo que a Sakura e a Hinata ainda estivesse na trama.
      Um dia ainda espero ler uma obra boa como as que vemos em shounéns com o protagonista inclinado naturalmente a ter um par romântico homossexual, tanto gay ou lésbico.
      Mas enquanto ainda não estamos lá, eu vou combatendo aos poucos e como posso o machismo e a homofobia como posso xD
      Quanto ao animê de Uragiri wa Boku no Namae Wo Shitteiru, é o típico shounen-ai, não espere romance nem nada assim mas MUITAS, MUITAS INSINUAÇÕES. Chega uma hora que você acaba batendo na mesa falando "se beijem logo!!" kkkkkkkkk mas eu gosto do anime pelo enredo e tudo mais, e mesmo ninguém que eu conheço gosta do protagonista, eu acho ele adorável.

      Beijos e muito obrigada pela resposta sempre atenciosa XD

      Eliminar
    6. Na verdade eu nem sei se me expliquei muito bem, mas de qualquer forma, se calhar eu percebi melhor a sua ideia com o comentário da Chell, em baixo >.<

      "Chega uma hora que você acaba batendo na mesa falando "se beijem logo!!" haha, sei como é ;) Obrigada pela indicação, realmente estou com vontade de assistir.

      De nada, atenciosa foi você ^^

      Eliminar
  2. Oioi, Anilyan! ^_^ Você me recomendou esse post já há quase uma semana, e eu peço desculpas, porque fiquei enrolando pra ler (era um tanto grande!) e coisa e tal, mas eu acabei conseguindo arrumar um tempinho pra comentar sobre ele.
    Mas preciso dizer que achei ótimo. Especialmente essa parte, hahah:
    "Oiço este mesmo argumento o tempo todo: "Não é como se eu tivesse alguma coisa contra pessoas gays. Juro. Eu tenho amigos gays! Só prefiro não ver este tipo de coisa. Não faz o meu género. Não quero isto no meu anime."

    Você quer saber o quê que eu não prefiro? Seios tão grandes que funcionam como bóias para flutuar, mas que droga porque isso é mostrado em quase todas as séries que assisto. E tmabém prefiro maçãs a bananas, mas ainda não visitei todos os restaurantes e mercearias da minha área para pedir que removam as bananas de cada item no menu. Isso porque sou uma adulta sã e racional. Não consigo compreender as pessoas que juram que "aceitam bem" sexualidade queer e depois, simultaneamente, afirmam que preferem ver séries apenas com personagens héteros."
    Explicou exatamente como eu me sinto em relação a anime com personagens com seios grandes que ficam pulando. É incômodo, é irreal, e eu não gosto. :P Mas ei, cada um gosta do que quiser.

    Acrescentando à discussão de vocês, o que eu acho incômodo no tom da autora do texto é que ela fala de uma perspectiva muito "americanizada", que é basicamente a perspectiva que o pessoal dos sites tipo Tumblr adotou, dos conceitos de sexualidade. Quer dizer, ela quer ver personagens queer em obras. Em todas as obras. E é por isso que hoje em dia tem MUITOS quadrinhos independentes ("indies") com casais queer, alguns em que até mesmo podia não ter casal nenhum. Muitos que, digamos, ficou forçado. E isso, sei lá, eu não acho que resolve nada, sabe? No máximo, no máximo, dá umas expectativas irreais pra jovens não-heterossexuais, de que diversidade sexual é normal no universo porque é normal na ficção e... sabe? Esse tipo de coisa. É frustrante você ver isso nos quadrinhos e ver que a vida não é assim, se você é um jovem. Isso é uma perspectiva muito pessoal e particular, mas a minha opinião sobre isso é: eu acho que representatividade é um conceito diferente de, digamos, exposição desnecessária. Não falo isso de uma perspectiva homofóbica (aliás, sou estudante de psicologia simpatizante da teoria queer!) falo isso porque realmente acho alguns movimentos forçados e desnecessários, pô, isso é um assunto MUITO sério, sabe? Jovens se matam por causa de sexualidade. Então não acho que isso tem que ser banalizado na ficção, que de alguma forma serve de meio desses jovens se inspirarem e se identificarem. Personagens queer fortes, interessantes e etc? ÓTIMO, faz mais que tá pouco mesmo. Casais jogados? Hmm, eu passo.

    AGORA, por outro lado... Yaoi é outra coisa. É fantasia, é erotica, é historinha de contos de fadas, muitas vezes (onde todo mundo é gay e todo mundo já pegou todo mundo, tipo Gravitation e Junjou Romantica rs). E é por isso que é legal! É fofo, dá pra rolar uma identificação mas, ao mesmo tempo, a gente tem consciência plena de que as coisas não funcionam assim. Eu sou fujoshi sim, mas longe de mim achar que yaoi é representativo de.. algum fenômeno realista.

    Em síntese, acho que concordo com os comentários da Miyaneo, e acho que a autora desse post é politizada mas escreveu algumas partes de uma forma meio excessiva. Acho que a ideia central é importante, apesar de não ter sido nada novo pra mim (eu comecei a ler yuri e yaoi há 10 anos, 10 anos convivendo com amigos shounenzeiros, então... nada que eu não tenha me deparado antes rs) mas achei bem escrito e gostei bastante. *^_^* obrigada pela recomendação, e vou salvar aqui pra quando me meter numa discussão dessas de novo! rsrs

    Até mais, Anilyan! <3

    - Chell
    http://notloli.blogspot.com.br/

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ohayou, não se preocupe pelo atraso, aliás, já imaginava que o texto fosse um nadinha denso de ler >.< Ler yaoi e yuri há 10 anos é algo de que eu decididamente não me posso gabar, na verdade em comparação com você e com a Miya-chan sou uma autêntica principiante, mas decidi trazer este post precisamente por algumas das respostas e argumentos "à altura" que a autora dava, como esse trecho que você citou.

      Mas agora que você fala da perspectiva americanizada, acho que até entendo melhor onde mesmo a Miya queria chegar. O problema então é com histórias em que qualquer casal ficaria algo forçado e colocam um casal queer apenas para mostrar que apoiam a comunidade - ah, isso sim, concordo que é exposição demais! Aliás, no FS, há já algum tempo, disse que uma coisa que os meios de comunicação não deveriam fazer era centrar tanto em casais homossexuais e assim, não tentar limitá-los a um esteriótipo, e sim tratá-los como pessoas normais, dando-lhes o foco normal. Era tudo uma questão de normalizar, e não de exagerar. Ter personagens queer em todas as histórias realmente seria falsificar um pouco a sociedade atual.

      Mas ao mesmo tempo, não julguei que fosse isso que a autora pretendia - pelo menos, não foi o que me ocorreu na altura, embora agora considere a possibilidade. Pelo menos, se ele queria dizer o que eu mesma penso, pretendia que casais queer fossem retratados sem ser o tema principal da história - e mesmo em se focar tanto na sexualidade deles, deixando-a clara mas dando mais atenção às suas outras caraterísticas e papel na trama - mas não em todas as séries/animes/whatever. Em algumas, e com o mesmo tratamento que os restantes casais tinham. Mas se o autor não tivesse escrito a história pelo romance e não houvesse necessidade nenhuma dele, não aparecem e pronto. Acho que o objetivo é retratar uma sociedade mais realista nas histórias - é por isso que é necessário ter casais queer fora do yaoi, afinal é um género fantasioso como tudo, haha.

      Quando se meter numa discussão dessas, me avise, também quero saber mais sobre o assunto ^^

      Jaa!

      Eliminar
    2. HUSHAUSA O comentário da Chell colocou mais coisas bem explicadas que o meu (que há tempos não comento em nenhum blog e parece que tudo ficou confuso. Eu tive que botar meu comentário no word e reler umas 5x e mudar quinhentas coisas mas mesmo assim ficou enorme e confuso, sorry HUAHUHUASHUSHAU)
      E, faço minha as palavras da Chell, e também que eu salvei o link pra ter quando este assunto chega à tona. Até partilhei lá no facebook (já que não escondo minha cara ao dizer que sou fujoshi kkkkkkkkkkk)

      Beijos!! XD

      Eliminar
  3. Hooy! Primeiramente, conheci hoje este seu blog e gostei muuuuito, sério mesmo, me representa! Mesmo não estando muito atualizado no momento, mas vou dar uma olhada nos outros posts também. =)

    Agora, sobre o texto em si, acho que temos que pensar basicamente que, ao escrever uma história, o autor pode optar por escrever uma ficção totalmente fora da realidade ou uma história mais realista. Em ambos os casos pode ou não haver uma moral, uma lição. Mas, em geral, as pessoas se identificam mais com histórias mais realistas. Melhor dizendo, elas podem até gostar mais das histórias de ficção, porém as histórias realistas sempre vão atingir alguém de uma forma mais intensa.

    Além de tudo isso, as obras que chegam para nós, para o público, em geral tem cunho comercial. Algumas mais, outras menos. Mas, em sua grande maioria, o autor não tem total liberdade - por trás tem os editores, os fãs, os assistentes, todo mundo pra dar um palpite e às vezes isto pode melhorar e outras vezes pode piorar a série.

    O ponto que quero chegar é que séries que fazem grande sucesso, ou mesmo as que fazem menos sucesso, independente de gênero, tem o seu potencial de acrescentar algo à quem assiste. O preconceito (homofobia) não vai acabar porque um autor de um mangá resolveu abordar este tema de uma forma interessante, mas cada vez que um autor de algum mangá fora do gênero yaoi/yuri aborda este tema de uma forma positiva, com certeza algumas pessoas são atingidas.

    Entretanto, as histórias costumam refletir a realidade da sociedade, de uma cultura, que é o caso da objetificação da mulher em diversos títulos - e isso também me incomoda demais, gente, pra que aqueles peitões gigantes que se existissem na vida real a coitada da menina ia sofrer horrores? - e é o caso também da homossexualidade, que é AINDA um tema tão tabu e restrito aos gêneros yaoi/yuri.

    Temos que pensar, ainda, que os animes são criados no Japão, e lá a cultura é um tanto diferente da europeia, americana ou brasileira. As ideologias, as relações entre as pessoas, os comportamentos, tudo é diferente. Estamos acostumados com a forma como tudo é retratado nos animes, porém, a sociedade japonesa ainda é bastante patriarcal e as pessoas são um tanto "fechadas". Isto também se reflete, não só nas séries, mas na reação do público à elas.

    Enfim! Tentei acrescentar a minha opinião a alguns dos tópicos citados no texto. Achei muito legal a discussão nos outros comentários, concordo com muitas coisas ditas, principalmente a Chell.

    Mas o texto em si é muito bom, ele traz um assunto interessante e concordo com o ponto principal que ele passa, que é justamente inserir personagens queer em histórias normais, sem estereótipos, sem um romance fantasioso, apenas... Normal. Como deve ser.

    Beijo!

    ResponderEliminar